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imagem: Natalia Y. via Unsplash |
faz um tempo que não escrevo ficção. acho que cursar letras me tornou mais crítica com tudo o que escrevo e isso acabou tirando a graça da minha criação de personagens e enredos — e, sendo bem sincera, me deu um tom mais melancólico, todas as histórias que imaginei desde o terceiro ano da graduação tem um fundo triste, introspectivo, que não é bem o que gosto de escrever (e não sei se combina muito comigo). mas tenho um textinho curto publicado em uma antologia que tem um trecho que ainda mexe muito comigo:
"é no escuro que me sufoca que elas [as palavras] aparecem. convidam a dançar, sussurram no ouvido, se espalham pela casa."
— esse texto foi uma reescrita de um poeminha antigo (quem já passava por aqui no começo, pode lembrar que tinha uma fase de longas poesias) que já não fazia muito sentido e que transformei em um fragmento. mas isso não vem ao caso.
o que interessa é: "é no escuro que as palavras aparecem" e me "convidam a dançar, sussurram no ouvido"... ainda penso muito nisso. remexo essas linhas na minha cabeça uma vez e outra (e outra).
a ideia de escrever no escuro não é literal, não é apagar a luz e escrever; o escuro tem mais um sentido de > não saber o que vem depois <, estar aberto a descoberta de quais rumos um texto vai tomar — para ficção, para textos acadêmicos, para uma lista de tarefas — e escrever mesmo sem realmente querer escrever. essa ideia de escrever no escuro também se relaciona com as condições em que se escreve, com um estado de conforto, ou silêncio ou até mesmo de solidão; é aquele fator particular a cada um.
e penso que o dançar e sussurrar das palavras se relacionam com uma certa frequência, consistência, constância em escrever. um conselho que sempre vejo outros dando é "escreva sempre" (e eu mesma aconselho meus alunos a desenvolverem um hábito de escrita) e este é uma das melhores sugestões que alguém pode dar, porque a escrita nada mais é do que um grande exercício. nosso estilo narrativo se desenvolve ou é moldado enquanto escrevemos, ganhamos autonomia e confiança escrevendo.
para mim, escrever envolve não só disposição, mas conforto (da mente, do corpo, das coisas espalhadas pela mesa). conforto para pensar, refletir e escrever e apagar. nenhuma palavra me convida a dançar nem sussurra no meu ouvido se eu não estiver disposta e relaxada o suficiente para me dedicar a "deslizar os dedos pelo papel" — escrever é um movimento do corpo como um todo e isso faz com que as palavras se espalhem pela casa.
coisas que gostei neste mês
1. mapas estranhos; COR #e9158d
2. ah o português;
bônus
volto em breve,
mas até lá, se cuide (*˘︶˘*)
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