*** Este post é fruto de reflexões das aulas da disciplina Literatura e mercado editorial, oferecida no segundo semestre de 2020 pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura da UFSCar.
Ainda que o fandom tenha diminuído sua participação em (tudo) premiações, a temporada de votações está aberta para o exo-l – na verdade essa temporada não fechou em nenhum momento, pois os centenas de componentes do fandom que se dispuseram, participaram de votações para diversas premiações (de popularidade, melhor ator, celebridade do mês, melhor cantor de trilha sonora etc. etc. etc.) ao longo de todo o ano, mas as premiações de final de ano são mais expressivamente divulgadas pelas muitas fanbases para encerrar de forma feliz um ano cheio de trabalho.
Assim como um Jabuti e demais premiações literárias, os prêmios na indústria musical (do entretenimento como um todo, na verdade) são importantes para consagrar e conferir algum grau de visibilidade (Dacome, 2018) para os grupos indicados e premiados, mas também para manter e ampliar essa consagração para outras comunidades.
Neste ano o EXO não teve comeback, ou seja, o grupo não lançou nenhuma música nova num mini-álbum ou álbum completo nem divulgou um videoclipe novo, principalmente porque quatro (Xiumin, D.O., Suho e Chen) dos oito integrantes sul-coreanos estão cumprindo o período de alistamento militar obrigatório (Lay, o integrante chinês, não irá para o exército sul-coreano, obviamente, mas não está participando das promoções com o grupo há vários meses por questões políticas entre China e Coreia do Sul – atualmente ele está ativo na China, dando prosseguimento a sua carreira como solista, participando de programas de variedade na televisão chinesa e promovendo testes para agenciamento de adolescentes que queiram ser trainees, e futuramente idols, na empresa que fundou recentemente). Mas isso não quer dizer que o exo-l ficou sem conteúdo: os integrantes que debutaram como solistas lançaram muita música nos últimos meses – Chen participou de uma das faixas do DinamicDuo, lançou uma faixa para a trilha sonora de drama e deixou um single de presente antes do alistamento; Baekhyun teve comeback com seu segundo mini-álbum como solista, Delight, e lançou algumas faixas para trilhas sonoras de dramas; Suho debutou como solista com o mini-ábum Self-Portrait e lançou single para trilha sonora de drama (que ele também participou como ator); Chanyeol, que ainda não debutou como solista, participou de várias músicas de outros cantores, incluindo Anbu, faixa de Lee Sunhee, uma das maiores cantoras sul-coreanas, lançou singles para trilhas sonoras de dramas e participou do Heart4U, programa especial da SM C&C; a unit de Sehun e Chanyeol, EXO-SC, teve comeback com o primeiro álbum completo 1 Billion Views; e Kai está às vésperas de seu debut como solista com o mini-álbum KAI (开) (além disso, Baekhyun e Kai participam do SuperM, um grupo que é formado com integrantes de outros grupos famosos da SM, que também teve comeback com seu primeiro álbum completo). Esta situação se refletiu nas indicações aos prêmios deste ano, pois os solistas tiveram o período de promoção (ainda que curto) de seus álbuns e sua popularidade cresceu, o que me leva a falar um pouco dessa relação entre premiação e capital simbólico, que, não coincidentemente, foi o tema da reflexão anterior postada aqui – no 2020 Mnet Asian Music Awards (MAMA) e Melon 2020 Music Awards (MMA), por exemplo, o EXO foi lembrado em Escolha dos fãs e Melhor Grupo Masculino e Baekhyun, como solista, aparece em diversas indicações (Melhor Artista Masculino, Melhor Performance Vocal Solo, Melhor Colaboração, Gravação do Ano, Artista do Ano) e Suho foi indicado ao Interpark’s 2020 Best Albums.
Por uma questão de melhor encadeamento dos posts que tenho feito aqui, desta vez usarei Baekhyun e seu segundo mini-álbum como exemplo. As vendas de seu álbum ultrapassaram a marca do um milhão – um fato que não ocorria com um artista solista desde 2000, quando a indústria musical começou sua transição para o digital com o streaming, conforme lembra Chris Lee, CEO da SM Entertainment, em sua conferência “Culture Technology Shining in the Non Contact Era” durante o COMEUP 2020, festival global de startups (da/na indústria tecnológica) –, o que não só elevou seu capital simbólico, como também atraiu atenção das organizações das premiações. Com isso eu não estou falando que suas indicações ocorreram porque seu número de vendas foi expressivo, não, estou falando que há sim, além da sua qualidade vocal, um interesse das premiações em ganhar valor simbólico com as indicações que faz (é um movimento duplo, mas irei explicar melhor).
Um fã não irá prestar atenção neste aspecto, irá votar porque ama, apoia, dedica tempo e energia ao idol e sua carreira e sabe que, quanto mais prêmios o artista tiver, maior será sua popularidade e assiduidade em programas de variedades e materiais promocionais de marcas (de roupa, cosmético etc.) – olha lá o capital simbólico de novo –, mas se pararmos para pensar nas instâncias de consagração, com os prêmios sendo uma parte delas, me parece que faz sentido dedicar alguns minutos de reflexão sobre o que percebo ser um movimento duplo no campo do k-pop, estabelecido como um recorte no campo musical – vale lembrar que “para que se criem instâncias de consagração [...] é preciso que o campo literário* se apresente como relativamente autônomo ou em vias de autonomização. Quanto a essa autonomia, Bourdieu diz ser necessário o estabelecimento de três medidas: existência de um grupo de produtores especializados; existência de um mercado e o consequente surgimento das então instâncias de consagração” (Dacome, 2018).
Não se pode negar que no funcionamento dos prêmios há trocas simbólicas entre artistas, consumidores, patronos e administradores da cultura (Dalcome, 2018) e por fazer parte de um campo, que é sempre relacional e um lugar de disputas por posição e permanência, oportuniza transações mútuas de prestígio – resumindo, uma premiação de k-pop confere visibilidade ao premiado (então o idol se beneficia) e ao mesmo tempo recebe um certo grau de visibilidade por ter laureado o idol (de forma que a premiação também se beneficia). Como dito anteriormente, é um movimento duplo.
As indicações que Baekhyun, o primeiro solista million seller em vinte anos-sócio da Privè-embaixador da TirTir-etc., recebeu levaram o fandom a participar das votações das premiações, ampliando seu alcance e capital simbólico (obviamente, as grandes premiações possuem capital simbólico, mas no caso de premiar este idol em questão, haverá a memória “da premiação que indicou e premiou o million seller”) e ao mesmo tempo legitimou ainda mais o idol – que neste ano, além dos diversos certificados de vendas na Coreia e China, também participou do painel sobre cultura e tecnologia do 2020 World Cultural Industry Forum (WCIF), alcançando outras comunidades que, se decidirem consumir os conteúdos do Baekhyun, terão como garantidas uma qualidade inquestionável. Neste caso, os dois lados ganham de alguma forma (talvez até mesmo nos casos em que ele não foi premiado).
Notas explicativas:
- Xiumin e D.O. estão no final de seu período de serviço militar, o primeiro será dispensado em 06 de dezembro (mas já está em casa, usando o último período de férias do serviço militar, de forma que não será necessário voltar à base e, por causa das precauções com a pandemia, não haverá cerimônia de dispensa) e o segundo em de janeiro de 2021.
- Suho e Chen se alistaram neste ano.
- estou considerando que o campo musical também deve ser relativamente autônomo.
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Textos deste texto:
Dacome, Camila Mazi. O prestígio na literatura: um estudo do campo literário brasileiro através do Portugal Telecom. Dissertação de mestrado. São Paulo: EACH-USP, 2018. Disponível aqui.
postado em 21 de novembro de 2020.
atualizado em 25 de novembro de 2020.
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