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imagem: Dim Hou @ Unsplash |
Eu sempre tive muita facilidade em escrever, principalmente sobre coisas que gosto ou estudo, mas três semanas se passaram e as 500 palavras sobre uma palestra que assisti não saíram nem perto de como eu gostaria, seis meses escorreram pelos meus dedos e os parágrafos que construiriam o primeiro capítulo da minha tese não conseguem ficar minimamente decentes. Todas as vezes que abro um documento no Word ou uma página em branco no caderno fico ansiosa com o que irei escrever, sinto uma pressão que não sentia antes. Será que esqueci como me divertir com a escrita?
Sempre ouvi (e muitas vezes disse para outras pessoas também) que escreveria melhor ao longo do tempo em que lesse mais e ampliasse meus horizontes de leitura, será então que o ponto diferencial na minha dificuldade na escrita está na mudança da minha relação com a leitura? Fui uma leitora ávida por toda a minha vida, devorei livros em um dia, li mais de duzentos livros por ano várias vezes, mas nos últimos três anos, por mais que ainda leia bastante (principalmente livros e artigos teóricos), meu ritmo mudou muito. Ler um livro em um mês? Nem sempre acontece. Em um dia? Dificilmente. Nos últimos seis meses mais reli livros que gostei do que li coisas novas (mas li algumas histórias novas, é claro) e, em termos de ficção, tentei encontrar o gênero e estilo de escrita que me fizessem voltar a gostar tanto de ler. Encontrei? Acho que sim. Ou pelo menos percebi que livros jovens-adultos (ou YA) não são mais para mim - muitos são ótimos e algumas das minhas autoras preferidas só escrevem neste gênero, então sigo lendo uma boa amostra do que tem sido tema de interesse deste nicho, mas... O ponto é: estou chegando aos trinta e as dificuldades e preocupações que me afligem não são mais apenas as que são tratadas nas histórias YA. Depois que tive tempo para pensar sobre e entendi (e aceitei?) isso, minhas escolhas de narrativas para ler mudaram e comecei a voltar a gostar de passar tanto tempo lendo. Mas não como antes. O número de livros que guardei ou doei sem terminar não me deixa mentir. E isso porque sinto ainda uma pressão para ser a Vitória de antes - mas a Vitória de antes não vai voltar porque ela não existe mais. Acho que preciso encontrar uma zona de conforto entre o que era antes e o que sou neste depois. E há ainda o fator exaustão.
Estou exausta.
De ler, escrever, aborver e processar uma quantidade imensa de informação. Nos últimos dois anos participei de vários cursos, palestras, mesas redondas... Preenchi os meus dias, semanas, meses para que não me sentisse inútil nem tivesse tempo para ficar deprimida. Aprendi muita coisa, pude participar de projetos incríveis que só descobri porque fui para lugares (ainda que sem sair da frente do notebook) que não previ e conheci pessoas incríveis nesses últimos meses - e fico muito feliz por isso porque essas experiências me transformaram em uma pessoa melhor (e me mantiveram seguindo em frente). Mas agora estou exausta. Agora não. Há meses. Jà estava exausta em março de 2020, mas em junho de 2022... eu mantenho a estratégia de participar em muitas coisas para não desistir de tudo.
Tudo isso reflete na minha relação com a escrita. Tenho escrito pouco e ainda menos quando penso no que não é apagado das linhas. Meu estilo de escrita mudou, parece preso, pesado, sem aquele fluir que me deixou feliz muitas vezes ao longo dos anos. Os artigos que escrevi? As análises que publiquei? Nada ficou como eu gostaria. Se tivesse certeza de que uma nova versão ficaria melhor, apagaria, mas sei que a possibilidade disso acontecer não é grande. Pensei que se lesse mais, voltaria a escrever melhor, então li tudo o que pude, mas esta não era a resposta.
Talvez a resposta seja realmente encontrar um meio-termo, uma nova zona de conforto.
Ler aos poucos.
Escrever aos poucos.
Preencher as linhas sem tanta preocupação de estar escrevendo alguma coisa que não irei gostar.
Estas pouco mais de 600 palavras já são um começo.
Que texto maravilhoso. Me identifico demais, vc não está sozinha. E sua escrita continua linda <3
ResponderExcluirÉ aquilo né, Lu, a gente precisa sempre tentar achar o passo certo pra ficar confortável... bom te ver por aqui! <3
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