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peguei minha coleção de photocards fanmade do EXO para fazer esta foto? claramente (e descobri que não tenho nenhum individual do Lay) |
Este não é o primeiro livro com romance entre um astro e uma pessoa comum - nem entre um idol e outra pessoa, já que estamos neste tema -, mas o que o distingue da leva de romances com idols como protagonistas é a pesquisa sobre a indústria do entretenimento sul-coreano feita pela autora. Isto fica cristalino em todos os capítulos enquanto a protagonista, Grace Lee vai aprendendo a trancos e barrancos durante sua estadia em Seul. Como alguém que acompanha grupos e a indústria de k-pop há mais de dez anos, já vi muitos (senão todos) dos temas tratados na narrativa acontecendo de verdade - passando por disbands, brigas, escândalos, ameaças, difamações, rumores, mortes, casamentos, namoros, sasaengs, artigos no Dispach... Mas não iremos falar de mim.
Em My Summer in Seoul, acompanhamos Grace Lee em seu estágio em Seul como assessora de manager de um super grupo de k-pop, o SWT (que eu passei o livro inteiro chamando de Seventeen na minha cabeça porque minha mente transforma SWT em SVT automaticamente; de novo, muito tempo acompanhando k-pop), que é agenciado pela empresa de seu tio Siu. Apesar de ser filha de um pai coreano, Grace é coreana-americana, loira (ainda que tingida), não fala nem entende coreano, nunca esteve na Coreia do Sul e não tem a mínima ideia de como funciona e o que envolve a vida de um idol e muito menos do que deveria fazer durante seu estágio - servir café, dirigir, acompanhar os idols em seus schedules, enfim, tentar facilitar o cumprimento da agenda enlouquecedora. Talvez seja este "estado cru" de Grace o fator mais interessante em seu desenvolvimento; na maior parte da trama senti um misto de ansiedade e esperança por ela porque claramente havia disposição em aprender, mas faltava preparação antes de embarcar de cabeça em um mundo completamente diferente do estadunidense. A personalidade brilhante de Grace é outro fator que pode levar o leitor desavisado a pensar que ela é inocente demais; no primeiro capítulo vemos Grace pulando de cabeça na oportunidade de estagiar na Coreia do Sul, mas no decorrer da história, as diversas camadas de sua personalidade vão aparecendo e começamos a nos identificar com ela, principalmente em sua força e ao buscar um sentimento de pertencimento que parece inalcançável.
É enquanto ela vai aprendendo a navegar em seu estágio com o caos (do trabalho e de suas emoções), suor e poucas horas de sono, que, ao mesmo tempo, começa a quebrar o gelo com os integrantes do SWT até desenvolver uma relação de amizade com eles - e um relacionamento amoroso com Lucas, mas chegarei neste ponto com o tempo.
SWT, nosso grupo de k-pop é formado por cinco garotos, Rae, Lucas, Kai, Jay e Sookie, o maknae (integrante mais novo). Todos eles têm seu charme próprio, mas claramente fiquei mais inclinada a gostar do Kai por dividir o nome com o meu bias supremo de todos os tempos KAI (do EXO). Enquanto Rae e Lucas têm segredos e tensões entre si, Kai, Jay e Sookie vão mostrando outras tensões extremamente humanas, como a necessidade de se provar mais do que um nome ou status de família, ou a necessidade de guardar seus sentimentos ou tentar se rebelar sem causar grandes danos. A forma como a autora construiu cada um dos cinco deixa claro de forma gritante (sim, esta ênfase é importante) que idols são humanos, com falhas, desejos, segredos e não objetos que fãs podem controlar. E junto às questões de saúde mental envolvendo Lucas, este é um dos principais pontos da trama: lembrar aos leitores que idols são humanos. Humanos passíveis de erros. Humanos com paixões. Humanos com medos. O que me leva a falar de Lucas.
No primeiro momento Lucas parece ser apenas mais um personagem com problema de personalidade, um bully. Mas como todos os outros personagens, é preciso tempo para desvendar suas camadas e começar a entender suas motivações. Ao começar a se abrir com Grace, como os outros quatro personagens, aos poucos sua devoção pelo grupo e pelos integrantes, que são sua família de verdade, fica explícita e passamos a compreender suas atitudes. Ele é um idol em todos os sentidos, principalmente no sofrimento com rumores, ameaças e sasaengs (as "fãs" que perseguem os idols, tiram fotos e fazem vídeos e vendem para portais de notícias ou outros fãs, ou enviam "presentes" terríveis para os idols), e lidar com o peso cobra muito. Lucas não é um personagem perfeito e isto é ótimo.
Enfim, My Summer in Seoul possui diversas camadas. Há a carga de informações sobre o funcionamento do k-pop que Grace vai descobrindo, há a abordagem do tema da saúde mental dos idols (e do suícidio), há o romance obviamente - e que não envolve apenas Grace e Lucas -, e há também o reafirmar de si mesmo, do que nos torna nós mesmos e que envolve os dois protagonistas Rachel Van Dyken construiu uma narrativa empolgante e encantadora, com personagens cativantes e trama cheia de conflitos, desentendimentos, risadas e lágrimas. O coração partido vem, mas depois tudo fica bem. Sempre fico receosa com histórias sobre idols e outros aspectos da cultura coreana quando são escritas por não-coreanos ou não descendentes, mas Rachel fez um trabalho de pesquisa espetacular e louvável, com ótimas descrições, personagens profundos e trama redondinha.
ARC kindly received to write an honest review.
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É estranho voltar a postar aqui depois de um ano (ou mais!), mas queria escrever em português o que já tinha escrito e postado no Goodreads em inglês, então cá estamos. Não vou prometer voltar aos posts recorrentes porque nesta altura do campeonato você e eu sabemos que isso provavelmente não irá acontecer, então é isso... até uma próxima vez.
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